Pular para o conteúdo principal

No país do avesso, legal é o ilegal; criminoso é tomar remédio, comer biscoito e ser “heteronormativo”


Sei lá se este país vai dar certo, dado o que parece ser uma compulsão por fazer tudo pelo avesso. Um exame de um instituto federal que seleciona professores de língua portuguesa comete um atentando contra a interpretação de texto e contra… Camões, ninguém menos! Uma prova de redação de uma universidade pública, sob o pretexto de defender a diversidade, impõe uma opinião aos vestibulandos, cobrando deles que apenas façam uma peroração sobre a tese prescrita. O ministro que fazia a coordenação política vai cuidar da pesca, e a que cuidava da pesca vai para a coordenação política. O único setor que responde pela estabilidade da economia, o agronegócio — e único, nesse caso, quer dizer “único” —, transforma-se no inimigo nº 1 da imprensa sob o pretexto de que é preciso defender a natureza.
Por que é assim? Porque vivemos sob a ditadura de grupos militantes, de minorias organizadas, que promovem uma intensa guerra de valores e impõem sua vontade à maioria. Como não lembrar aquele militante gay, em histórico artigo publicado pela Folha, a afirmar que as escolas têm de “problematizar” a sexualidade dos… heterossexuais? Trata-se de uma caricatura, eu sei. Mas é uma caricatura muito reveladora de um tempo. Afinal, o filme que chegaria às escolas, então aprovado pelo MEC, tratava os heterossexuais quase como aleijões, gente com uma probabilidade menor de “ficar” com alguém…
No país do avesso, o Supremo Tribunal Federal deve julgar hoje uma ação em que a Procuradoria-Geral da República pede a liberação da Marcha da Maconha. Em nome da liberdade de expressão, a minha aposta é que as manifestações, que caracterizam como todos sabem, clara apologia de algo que é definido como crime, serão liberadas. Pois saibam: este mesmo país está a um passo de proibir os remédios para emagrecimento. A Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, está numa verdadeira campanha. Lendo o noticiário, entendi que a decisão já está tomada, e todo argumento só serve para que a burocracia se assanhe ainda mais.
Então ficamos assim: somos o país que vai liberar manifestações em favor de prática que é caracterizada como crime — a apologia das drogas — e que vai proibir um remédio que, bem-administrado, salva vidas. O pretexto, nesse caso, é que ele aumenta significativamente o risco de problemas cardíacos em pacientes que já apresentem fatores de risco. Bem, qual remédio não traz também riscos? Fenilcetonúricos não podem beber uma coca-cola. Ela deve ser proibida por isso. A proibição é estúpida, além de se contestada por muitos especialistas.
Se o Ministério da Saúde acha que há abuso no consumo, que se regule com mais rigor o remédio; se acha que tal rigor seria inútil porque sempre haveria um modo de driblar a lei, então deve supor que os emagrecedores continuarão a ser usados ainda que ilegais — e, nesse caso, fora de qualquer controle ou acompanhamento. Mas essa é a Anvisa… Este órgão — transformado, não custa lembrar, em abrigo da companheirada — tem estudos para proibir propaganda de biscoito, refrigerante, sanduíche… No país do avesso, numa das marchas dos maconheiros, um gaiato pedia a proibição do Big Mac. Segundo dizia, o lanche, sim, é uma droga pesada…
Nestes tempos realmente singulares, vai se transformar a apologia das drogas — e basta tomar conhecimento dos lemas da marcha, dos sites que a promovem e dos discursos para que se constate que se trata de apologia, não de debate — numa expressão das liberdades individuais, mas se está a um passo de cassar das pessoas com obesidade mórbida a chance de ter uma vida mais feliz, desde, é claro, que se tenha o devido rigor na administração do medicamento. No país do avesso, as drogas ilícitas libertam; as lícitas aprisionam. No país do avesso, se é a sexualidade dos heterossexuais que tem de ser “problematizada” nas escolas, por que não tornar ilegal o legal e legal o ilegal?
Vamos ver. Se a liberdade de expressão dá o suporte para uma manifestação que a lei caracteriza como crime, será interessante indagar que outro ato criminoso mereceria igual tratamento.
Aberta a janela, seríamos, então, livres a tal ponto que pudéssemos solapar a própria liberdade?
Por Reinaldo Azevedo

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

keneisianos...

John Maynard Keynes Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Saltar para a navegação Saltar para a pesquisa Esta página cita  fontes confiáveis , mas que  não cobrem todo o conteúdo .  Ajude a  inserir referências . Conteúdo não  verificável  poderá ser  removido .— Encontre fontes:   Google  ( notícias ,  livros  e  acadêmico )   ( Setembro de 2016 ) John Maynard Keynes CB John Maynard Keynes Conhecido(a) por Macroeconomia ,  Escola keynesiana Nascimento 5 de junho  de  1883 Cambridge ,  Inglaterra Morte 21 de abril  de  1946  (62 anos) Tilton ,  East Sussex ,  Inglaterra Nacionalidade   Britânico Cônjuge Lydia Lopokova  (1892-1981) Alma mater King's College, Cambridge Causa da morte Ataque cardíaco Campo(s) Economia Política ,  probabilidade John Maynard Keynes  ( Cambridge ,  5 de junho  de  1883  —  Tilton ,  East Sussex ,  21 de abril  de  1946 ), foi um  economista   britânico  cujas ideias mudaram fundamentalmente a teoria e prática da 

NÃO SOU EU ...SIM MARX FALAVA 1818 - 1883

Poder e Luta de Classes A tradição marxista ortodoxa coloca o poder localizado no Estado. A burguesia, desse modo, governa a sociedade porque possui o controle do Estado. A antítese deste poder seria o partido comunista. Para um partido comunista tomar o poder, este deve se equiparar a um aparelho de Estado, com todas as suas regras, disciplinas, hierarquia. Seria uma espécie de um projeto estatal, um mini-estado. Um modelo do que será o futuro estado comunista. Porém, uma questão que surge é: estaria o poder localizado somente no Estado? Ou tomando o poder de Estado obtêm-se também o controle de toda a sociedade, sendo capaz a transformação de uma sociedade capitalista para uma socialista e posteriormente comunista? Segundo a obra de Michael Foucault, o poder não é um instrumento no qual podemos possuir ou adquirir. Existe na verdade múltiplos poderes, relações de poder. Certamente que Foucault não é marxista, mas não me incomodo de usá-lo aqui para explicar o fu

PRA CIMA DO GIGANTE

ssa é a família, pra cima do gigante emissários e culto racional (firme e forte e avante) novas vidas me motivam, inspira caminhada musica por musica pra nós não vale nada com unção, com temor propagando o amor, das quebradas com amor, expulsamos o terror não negociamos a nossa fé carater amizade assim que é unidos na junção alvo ou compromisso longe do holofot buscando o princípio se não for pelas vidas o porre é em vão em busca da vaidade se vivi na iluzão de ganhar a glória fama e dinheiro o mano se corrompe e os sonhos viram pesadelos emissários a proposta de renovação trazendo boas novas diferenças ao seu coração esperança e fé, harmonia e benigidade, humildade nova vida trasformada de verdade refrão com cristo eu vou pra cima do gigante, eu vou firme e forte e avante! por cristo eu vou fazer mais que uma rima instrumento pra gloria de deus mao pra cima! (2x) cadê a meta o foco de pregar defender a coisa certa, princípios e valores não se vendem nem se empresta