Para manifestantes em Hong Kong, limpeza é sinal de determinação
Separação do lixo, coordenação para garantir suprimentos aos que ocupam ruas e avenidas e até pedidos de desculpas pelos transtornos marcam movimento que exige democracia
Milhares de
manifestantes ocupam a rua principal que leva ao distrito financeiro de
Wanchai, em frente à sede do governo de Hong Kong, na China. Os
manifestantes pró-democracia lançaram uma campanha exigindo maiores
liberdades na ex-colônia britânica - Bobby Yip/Reuters
Os manifestantes querem o direito de eleger o chefe executivo local sem as barreiras impostas por Pequim, que pretende limitar a lista de candidatos a nomes pré-aprovados. A imprensa estatal considera os protestos uma conspiração orquestrada pelo Ocidente para derrubar o Partido Comunista. Inicialmente, afirma o NYT, as manifestações foram articuladas por organizações de acadêmicos e estudantes, mas o movimento cresceu e agora abriga demandas que vão de um diálogo com o governante indicado por Pequim, Leung Chun-ying, até sua renúncia imediata. Contudo, não há sinal de que as autoridades estejam dispostas a atender aos manifestantes. Leung Chun-ying disse nesta terça que as manifestações devem acabar “imediatamente”. Em resposta, os manifestantes ameaçaram ampliar o movimento e ocupar prédios públicos.
Caio Blinder: Revolução dos guarda-chuvas, em Hong Kong, é um jogo de paciência
Maya Wang, pesquisadora da ONG Human Rights Watch, disse ao jornal americano que a força dos protestos está na descentralização, o que impede que a prisão de alguns líderes esvazie o movimento. “A fraqueza está, é claro, na possibilidade de haver confusões e divisões conforme a situação evolui”. Embora o movimento não tenha líderes formais, alguns nomes já despontam, como o de Joshua Wong, um jovem magro de óculos, de apenas 17 anos de idade. Segundo a rede CNN, ele chegou a ser detido na última sexta-feira, ao invadir uma área do governo durante um protesto, e foi liberado no domingo.
Muitos participantes admitem que o movimento pode fracassar, mas outros afirmam que os protestos, com sua atenção à higiene e às boas maneiras – com direito a cartazes pedindo desculpas pela “inconveniência causada” aos moradores – é uma prova das boas intenções dos manifestantes. Um dos principais transtornos é o bloqueio do tráfego em vias importantes. Por outro lado, surgiu na região um "turismo de protesto", com visitantes sozinhos ou em grupo indo aos locais de ocupação registrar em fotos a movimentação, informou a rede CNN.
No início do dia, a movimentação é majoritariamente de estudantes universitários, aposentados e trabalhadores que tiraram o dia de folga. À noite, quando todos saem do trabalho e a temperatura é mais agradável, o número de participantes aumenta, fica mais barulhento e mais diversificado. Jovens fazem a lição de casa nas ruas e muitos dormem ao relento, voltando para casa de manhã para tomar banho e descansar um pouco.
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Tarefas coordenadas – O uso da tecnologia e das redes sociais também está presente e ajuda a manter as coisas em ordem. Serviços de mensagens instantâneas auxiliam na busca de voluntários e medicamentos para tratar os efeitos decorrentes do uso de gás lacrimogêneo e gás de pimenta. As redes sociais também são um canal para os manifestantes saberem que tipo de suprimentos é necessário: água, biscoitos, máscaras e guarda-chuvas, que se tornaram o principal símbolo da que já está sendo chamada “Revolução dos Guarda-Chuvas”.
“Um guarda-chuva não parece ameaçador. Ele mostra como o povo de Hong Kong é indulgente, mas, quando você ultrapassa o limite, todos nos unimos, da mesma forma que os guarda-chuvas são abertos ao mesmo tempo quando chove”, filosofou Chloe Ho, estudante de história de 20 anos, que estava distribuindo maçãs, chocolate e lenços umedecidos para manifestantes que ocupavam uma
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